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Segundo elemento mais comum do Universo
está acabando na Terra
Nicolas Jones
New Scientist
"Numa cultura de desperdício, que tem sido a marca registrada do homo sapiens no planeta, conseguimos o quase improvável. Em todo o Universo o elemento Hélio sobra; na Terra ele só terá mais cinquenta anos de existência. Claro que vão inventar de produzí-lo em laboratório para suprir a demanda, mas, será que não é hora de pensar numa ciência mais integrada com os recursos do planeta e o equilíbrio natural???"
Olhe para você enfeitando a casa com balões de festa, respirando o gás e rindo como Mickey Mouse... Agindo como se houvesse um estoque interminável de hélio para gastar em bobagens. Bem, ele pode ser o segundo elemento mais abundante no Universo, mas aqui na Terra estamos prestes a esgotá-lo.
É sério. O hélio é um recurso não renovável, como os diamantes e o petróleo, e em menos de 50 anos nossas minas de hélio vão secar. O preço do gás precioso está subindo rapidamente, e os que trabalham com isso não sabem o que farão quando ninguém mais puder pagá-lo.
BALÕES EM FESTAS
Porque há muito mais que balões de festa em jogo. O hélio é a única coisa que permanece líquida em uma temperatura suficientemente baixa para resfriar ímãs supercondutores como os dos equipamentos de ressonância magnética dos hospitais. Ele é colocado em tanques para que os mergulhadores não tenham problemas causados por descompressão. Ele substitui o ar no equipamento que fabrica cabos de fibras ópticas, para que os delicados filamentos não tenham bolhas internas.
Os átomos de hélio são tão pequenos que os cientistas usam o gás para saber se um equipamento sensível de laboratório é à prova de vazamento. Ele cria ambientes livres de fagulhas para trabalhos de solda complexos. É a base de toda a pesquisa de criogenia. Ele preenche os balões que levam publicidade e equipamentos de vigilância flutuantes para observar mísseis de baixa altitude ou traficantes de drogas. E a Nasa o usa em grandes quantidades para pressurizar os motores de foguetes. Um mundo sem hélio não seria fácil.
Mas de onde vem esse gás maravilhoso? O hélio constitui 23% da massa do universo visível. A maior parte dele se forma quando pares de átomos de hidrogênio se fundem no centro de uma estrela. Aqui na Terra ele é produzido pela lenta decomposição de rochas naturalmente radioativas no subsolo profundo. Ele borbulha através de rachaduras na terra, se mistura com o ar e finalmente vaza da alta atmosfera para o espaço exterior.
Ao todo, temos uma quantidade de hélio estimada em 470 trilhões de m3. A má notícia é que a maior parte dele está na atmosfera, em uma pequena concentração de 5 partes por milhão (ppm) -disperso demais para ser separado. É necessária uma concentração de aproximadamente 3.000 ppm para que a extração seja praticável. Isso no momento significa que sua melhor fonte é o gás natural.
Não há muitos reservatórios de gás natural no mundo suficientemente ricos em hélio para atingir esse número mágico. E quase todos estão num raio de 400 quilômetros de Amarillo, Texas, também conhecida como "capital mundial do hélio". Lá as concentrações podem chegar a surpreendentes 80.000 ppm -tão altas que o gás não queima a não ser que se remova o hélio, não inflamável. Os Estados Unidos têm ao todo 20 usinas privadas que produzem 150 milhões de m3 de hélio por ano.
O segundo maior produtor é a Argélia, com 14 milhões de m3 por ano. Com mais algumas usinas menores na Polônia e na Rússia, é praticamente todo o estoque global. Algumas novas usinas deverão começar nos próximos anos, o que poderá aumentar a produção anual em cerca de 25%. Mas, como já nos disseram muitas vezes, o gás natural um dia vai acabar - segundo as atuais estimativas, no máximo em 2060.
O HÉLIO ONTEM E HOJE
O hélio foi descoberto em 1868, quando cientistas descobriram uma linha inexplicável no espectro solar. Eles a batizaram com a palavra grega "Helios", que significa Sol.
Hoje o hélio mais caro é vendido na Grã-Bretanha por cerca de R$ 250 por m3. Isso torna o hélio mais caro que o ouro, em peso.
O hélio afina a voz de quem o inala porque o som se propaga mais depressa em um gás de baixa densidade do que no ar. Se em vez de hélio você respirar uma quantidade de xenônio (um gás nobre muito mais pesado), sua voz ficará mais grossa. Mas não corra riscos ao tentar respirar algum desses gases. Eles podem ser inertes, mas enquanto você está respirando hélio não inala qualquer oxigênio - e pode se sufocar.
Um balão de festa pode conter cerca de 14 gramas, então você precisaria de 4.600 balões para erguer uma pessoa de peso médio.
O volume de hélio vendido na Grã-Bretanha diariamente é suficiente para levantar seis elefantes.
Tratando-se de hélio, poderemos enfrentar problemas muito antes. No momento usamos praticamente todo o gás que coletamos a cada ano, com uma diferença de alguns pontos percentuais. Mas nos últimos cinco anos o nascimento da indústria de fibras ópticas e o uso generalizado de equipamentos de ressonância magnética fizeram a demanda começar a superar a oferta.
Nos Estados Unidos, há um recurso extra: depois da Primeira Guerra Mundial o governo acreditou que as aeronaves cheias de hélio seriam a arma perfeita, por isso começou a armazenar o gás. O legado desse programa é uma caverna subterrânea no Texas que contém 1 bilhão de m3 de hélio, e o governo pretende vendê-lo para recuperar uma parte da dívida deixada pelo projeto.
O Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos reuniu um grupo de físicos em 2000 para calcular os números. Se a demanda crescer 5% ao ano, eles estimam que todos os nossos estoques estarão terminados em 2012 e haverá uma escassez maciça de hélio. Não haverá mais balões de festa. Se por algum milagre a demanda continuar igual à de 1998, ainda ficaremos privados dele em 2035. De qualquer modo, mais cedo ou mais tarde vamos ficar sem esse recurso.
Por isso, em breve teremos de inventar um novo suprimento. Os geólogos já descobriram "pontos quentes" de hélio em aberturas ao longo de zonas de falha, que chegam a 350 ppm em lugares como Matsuhiro, no Japão. Talvez as futuras gerações ouçam falar na "grande corrida do hélio" de 2020, com prospectores vasculhando montanhas com atividade tectônica em busca de vazamentos de hélio. Alternativamente, poderíamos obtê-lo da areia radioativa chamada monazítica, como se fez no início do século 20, antes de terem encontrado a arca do tesouro no gás natural. Ou poderíamos de algum modo retirar molécula por molécula do ar.
No mínimo poderíamos nos aperfeiçoar na reciclagem do elemento.
Na verdade já fazemos um pouco isso. O hélio puro é reservado para aplicações médicas ou científicas. Tudo o que sobra depois é coletado em sacos gigantes e enviado para a indústria de balões. Algum dia no futuro todos os balões ambientalmente amigáveis poderão levar o selo "100% hélio reciclado".
Mas você poderá comprá-lo? "O preço subiu cerca de 40% nos últimos três ou quatro anos", diz Pete Flaxman, diretor de criogenia do departamento de física da Universidade de Cambridge. E segundo Nick Ward, da companhia de fornecimento de gás BOC, que manipula 30% da purificação e distribuição de hélio no mundo, até 2015 o custo do hélio cru terá duplicado em comparação com os preços atuais. E parece que tão cedo as alternativas não vão ajudar muito. "Poderíamos falar em algo como um aumento de 100% no custo para retirá-lo do ar", disse Ward.
"Os distribuidores estão começando a ficar preocupados", diz Marty Fish, da Associação Internacional de Balões, em Kansas. Estando perto da fonte texana, ali o gás é disponível por baixo preço. Mesmo assim, o custo - assim como o dos balões - está subindo cada vez mais. Se nada for feito, diz Fish, "as pessoas vão pensar duas vezes antes de usar balões de festa".
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ALERTA do GBAlmanac
Todos devem ficar atentos e monitorar cuidadosamente este assunto de interesse geral dos profissionais da Arte com Balões, buscando alternativas criativas para enfrentar este desafio (vide artigo enviado ao GBA pelo Tunico de Brasília no ano passado, publicado novamente em "Comentários").
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